24.7.09

É neste final de semana

A coletânea Steampunk - Histórias de um passado extraordinário será lançada neste final de semana, durante o Fantasticon - III Simpósio de Literatura Fantástica, que acontece nos dias 25 e 26 de julho, na Biblioteca Viriato Corrêa, Vila Mariana, na capital de São Paulo.

No domingo, para celebrar o feito, vai haver ainda um evento na programação daquele encontro especialmente voltado ao gênero steampunk. Segue abaixo:





11 às 12 horas
Bate-papo: “STEAMPUNK E OS NOVOS RUMOS DA FICÇÃO CIENTÍFICA”
Criativos, retrofuturistas no estilo e no comportamento. Esses são alguns dos conceitos do Steampunk, um gênero de ficção que explora um “mundo alternativo” movido a vapor (”steam”). Assim, temos uma fusão de “era vitoriana” com “futuro pós-apocaliptico” ou “punk” no sentido de transgredir o hoje e o passado. Algo com muitas engrenagens, com grandes zepelins voando pelos céus e seus respectivos piratas, um misto de roupas vitorianas com tecnologias que parecem do nosso tempo. Mais do que nunca, surgem novos e talentosos autores na atual Ficção Científica que expandem as barreiras do gênero. E os editores fazem a sua parte: buscam rótulos para categorizá-los. No meio de tantos rótulos e inovações, o que exatamente eles representam?

Para discutir o tema, três convidados: Gian Celli, organizador da coletânea; Fábio Fernandes, um dos autores; e Bruno Accioly, cofundador do Conselho Steampunk.

Não poderei ir, mas por ótimas razões e estarei ocupado ao longo da próxima semana. De qualquer forma, para marcar a data publiquei em meu outro blog o início da minha noveleta que participa desta obra pioneira no Brasil.

Quando eu voltar das minhas férias da frente do computador, volto a acompanhar a repercussão do lançamento e qualquer outra notícia que eu venha a saber sobre material steampunk nacional ou que venha a ser veiculado no Brasil.

Até a volta, boa festa a quem vai participar, ótima leitura a todos que nos derem o prazer de acompanhar nossos textos.

23.7.09

Sobrenome é destino

Este é um post que estou devendo desde o dia 10 de feveiro, quando terminei desta forma uma nota publicada neste blog:


Vale lembrar que o nome do protagonista de "Cidade Phantástica" não é João Octavio Ribeiro à toa. Foi minha homenagem pessoal a um dos precursores do steampunk e da ficção alternativa no Brasil [eu falava de Octavio Aragão, autor do romance A mão que cria]. Quanto ao Ribeiro, no nome do personagem, também é outra citação. Mas isso fica para um próximo post.


Bem, já que eu citei e publiquei textos do homenageado recentemente, vamos cumprir a promessa, com certo atraso. O Ribeiro do nome do personagem principal da noveleta, único que não é uma apropriação vinda de alguma obra em domínio público, vem diretamente de Gerson Lodi-Ribeiro. Publiquei ontem uma resenha sobre a novela O que o olho vê, no Overmundo, em que comentei um pouco sobre este engenheiro carioca, o gênero de FC conhecido como história alternativa e o livro cuja capa pode ser vista aqui ao lado. Segue o trecho sendo que a íntegra pode ser lida - e votada - aqui:

O Brasil não é apenas consumidor, mas também produz história alternativa. O maior incentivador e um dos pioneiros no gênero em nosso país é o carioca Gerson Lodi-Ribeiro. Apesar de o veterano J. J. Veiga ter escrito antes uma história em que Antonio Conselheiro sobrevivera ao cerco de Canudos, é uma noveleta de Lodi-Ribeiro a mais citada como precursora das HAs em nosso país. “A ética da traição”, publicada na Isaac Asimov Magazine brasileira, falava de um Brasil que havia perdido a Guerra do Paraguai, mas, em compensação, se tornara um país mais desenvolvido. Este texto e outros de uma segunda linha de especulação do autor, na qual os holandeses não foram expulsos, mas se aliaram aos quilombolas e se mantiveram em Recife, foram compilados em forma de livro: Outros Brasis, da Mercuryo, em 2006. Antes disso, quando se comemoravam os 500 anos da descoberta do Brasil, ele já havia organizado uma coletânea inteira do gênero, chamada Phantastica Brasiliana, pela editora Ano-Luz, da qual participou Carlos Orsi, como coeditor e um dos autores.


Uma vez que, basicamente, "Cidade Phantástica" é uma história alternativa em que a Guerra do Paraguai nunca existiu, achei seria muito justo citar de alguma forma o autor brasileiro que mais contribui para a consolidação desta vertente da ficção científica no Brasil. Dai nasceu nosso conhecido João Octavio Ribeiro.

22.7.09

Sobre a coletânea Vaporpunk

Como a chamada que eu fiz sobre a coletânea Vaporpunk gerou algumas dúvidas nos comentários, convidei o responsável pela parte brasileira do projeto para responder aos leitores do blog. Gerson Lodi-Ribeiro aceitou o convite e comentou no mesmo espaço. Para dar a suas respostas a mesma visibilidade que a nota que gerou o assunto, republicarei aqui suas palavras.

A ideia de fazer uma antologia temática de história alternativa dentro do subgênero steampunk surgiu de um papo com o Gian Celli da Tarja no ambiente alegre e barulhento de uma danceteria em outubro de 2008, por ocasião do lançamento nacional do Taikodom em São Paulo.

Nas semanas que se seguiram, ao longo das discussões para decidirmos como seria nossa antologia steampunk, eu, o Gian e o Richard Diegues acabamos percebendo que tínhamos concepções divergentes e irreconciliáveis quanto à melhor estratégia para organizar e montar a obra. Daí, a separação amigável com um bônus adicional para os leitores lusófonos: em vez de uma, teremos duas antologias steampunks, cada qual com sua filosofia de trabalho.

Parte do meu plano consistia em montar uma antologia luso-brasileira, pois esse caminho multiplicaria por dois as chances de publicação em papel. Para tanto, convidei para me ajudar na tarefa árdua de edição o amigo de longa data Luís Filipe Silva, autor e editor de ficção científica português, cuja obra e reputação dispensam maiores apresentações.

O plano inicial da Vaporpunk é reunir de dez a catorze noveletas (cinco a sete trabalhos de autores brasileiros e outro tanto de autores portugueses). Um livro com algo em torno de 80.000 a 100.000 palavras.

Dividimos nossa labuta de editores por nacionalidade: o Luís cuida das submissões dos autores portugueses e eu cuido das submissões dos autores brasileiros. No entanto, cada trabalho precisará do aval de ambos para ser incluído na Vaporpunk.

Dentro dessa divisão, cada co-editor é livre para estabelecer seus próprios critérios para a seleção do material a ser submetido.

Deste lado do Atlântico, enviei nossas guidelines para alguns autores com os quais já trabalhei antes como editor. Autores que, tanto pela análise do conjunto de suas obras anteriores quanto pela confiança mútua no trato pessoal, julgo capazes de produzir noveletas efetivas dentro do subgênero steampunk. Deste modo, a submissão dos autores brasileiros deu-se por convite.

Em Portugal, o Luís adotou estratégia diversa. Após avaliar que não conseguiria obter as cinco ou sete submissões com o padrão de qualidade almejado através do simples convite, ele decidiu publicar nossas guidelines sob forma de um edital lato sensu, solicitando submissões de autores portugueses.

Naturalmente, em virtude dessa divergência de critérios, vários autores brasileiros só acabaram sabendo da existência do esforço para produzir a Vaporpunk a partir de sites e fóruns portugueses.

A partir do conhecimento da existência de uma antologia temática com submissões tecnicamente em aberto, passamos a receber submissões não solicitadas de autores brasileiros.

Como iremos proceder a partir do imbróglio resumido acima?

É simples.

Todos os autores brasileiros que, convidados ou não, submeterem seus trabalhos até a deadline proposta (31 de julho de 2009), sob os ditames das guidelines estabelecidas, terão suas noveletas avaliadas em primeira instância por mim e, se aprovadas, também e obrigatoriamente, pelo Luís Filipe Silva.

Autores brasileiros que receberam convites no início de 2009 e que já vêm trabalhando em suas noveletas desde então também deverão se ater em princípio à deadline referida. Contudo, a meu critério, na dependência do andamento dos trabalhos desses autores convidados e de entendimentos prévios entre autores e editor, poderei estender um pouco esse prazo.

Não se justificam as queixas por parte dos autores brasileiros de que não foram avisados das guidelines e do edital da Vaporpunk, ou que apenas souberam dos mesmos em cima da hora, tendo em vista que os critérios de seleção deste lado do Atlântico não envolveram solicitação pública de submissão de trabalhos.

Espero ter esclarecido os colegas e amigos acima.

Gerson Lodi-Ribeiro, editor brasileiro da VAPORPUNK.

21.7.09

Novo desafio de minicontos

Tom Banwell ataca novamente. O artista plástico que lançou um desafio do qual participei e me valeu a publicação de um miniconto chamado "Amazon Underground" em seu blog finalizou um novo capacete e lançou outro concurso.

A peça agora levou o nome provisório de Defender e é uma beleza:



O californiano caprichou ainda mais desta vez, concordam?



Novamente, a ideia é contar em um texto sobre este capacete, quem é seu dono, para que ele serve, enfim, criar um histórico para o artefato de Banwell.



O limite do texto é de 700 palavras, o prazo de entrega é no dia 11 de agosto.



Quem for o escolhido do artista plástico, vai levar US$ 75 para gastar em um dos artigos à venda na loja on line dele.


Os interessados podem encontrar mais informações neste post. Da última vez foram três brasileiros participando, contando com Ludimila Hashimoto que me garantiu uma tradução de primeira. Espero que novamente haja minicontos nossos conterrâneos na disputa. Boa sorte a todos!

20.7.09

Bruce Sterling e a "Bossa Steampunk"

Ele mesmo: o homem que é, ao lado de William Gibson, o criador tanto do cyberpunk quanto do steampunk como os conhecemos; o guru tecnológico; o cara.

Bruce Sterling descobriu a existência do site do Conselho Steampunk e fez um post a respeito no blog que mantém na Wired.com, o Beyond the Beyond. Nesta nota, ele brincou com a ideia e batizou um novo conceito: "Bossa Steampunk".

Mas não parou por aí. Hoje, Sterling publicou uma mensagem do fundador do Conselho, Bruno Accioly, divulgando os demais endereços das representações regionais - que, para surpresa do blogueiro, são batizadas da mesma forma que uma certa sociedade secreta ("Lodges. Like Masonic Lodges? Boy, that’s awfully 19th century.") - e descreveu algumas das iniciativas do grupo. Conclusão do pai da matéria: "O mundo é um lugar vasto e maravilhoso, damas e cavalheiros."

19.7.09

Mais uma Loja no Conselho Steampunk

A cidade que inspirou o título deste blog e da noveleta homônima acaba de estrear no Conselho Steampunk. Minhas boas vindas à Loja Rio de Janeiro e ao belo site de onde tirei a imagem acima.

17.7.09

Coletânea lusobrasileira: Vaporpunk

Como soube da notícia já bem atrasado - graças à versão twitter da Loja São Paulo do Conselho Steampunk - vou reproduzir na íntegra o chamado de submissão de textos publicado originalmente aqui torcendo para ler material brasileiro nesta coletânea binacional:

A antologia Vaporpunk pretende reunir noveletas de história alternativa do subgênero steampunk escritas por autores brasileiros e portugueses, com fins de publicação em mercados de ambos os lados do Atlântico, em mídia convencional e/ou e-book.
Por considerarmos que a dimensão ideal precípua para expressar um enredo de história alternativa é a noveleta e não o conto, como no caso da ficção científica, gostaríamos de fixar os limites dos trabalhos que aceitaremos entre 8.000 e 18.000 palavras. Isto não quer dizer, em absoluto, que trabalhos fora deste padrão serão sumariamente rejeitados. Se vossos escritos forem realmente bons, a qualidade decerto pesará, ainda que eles sejam menores ou maiores do que o limite proposto. No entanto, convém deixar claro que olharemos com mais simpatia trabalhos dentro do intervalo citado.
Analogamente, gostaríamos de receber trabalhos steampunks cujos enredos dissessem respeito, direta ou indiretamente, às culturas brasileira e/ou portuguesa, mostrando o impacto social do avanço tecnológico precoce na história dessa(s) cultura(s).
Vaporpunks, por assim dizer.
Não se trata de uma exigência estrita. Trabalhos steampunks que nada tenham a ver com o Brasil ou com Portugal serão apreciados com a atenção devida e também poderão ser eventualmente aceitos. Porém é honesto frisar aqui nossa predileção por vaporpunks que sejam lusófonos não só de corpo (i.e, escritos por autores portugueses e brasileiros), como também em espírito (enredo, personagens, ambientação lusófonos).
A deadline proposta é 31 de julho de 2009.
O mais importante é que não nos prendemos à definição castiça de steampunk / vaporpunk.
Isto quer dizer que a ação de vossas noveletas não precisa necessariamente transcorrer na Londres Vitoriana da segunda metade do século XIX. Afinal, As Loucas Aventuras de James West é considerado steampunk e se passa no Velho Oeste, certo?
Da mesma forma, consideramos vaporpunk o romance de Paul McAuley, Pasquale’s Angel (publicado em português sob o título de A Invenção de Leonardo, Saída de Emergência, 2005), onde os inventos de Da Vinci são concretizados e a Revolução Industrial começa com três séculos de antecedência.
Não se faz necessário que o vapor seja a única tecnologia precoce presente em vossos enredos.
Em resumo, estamos interessados em enredos que mostrem o impacto social do emprego amplo e precoce de avanços tecnológicos nas culturas portuguesa e/ou brasileira. Tais enredos podem se constituir em passados alternativos ou em presentes alternativos.
Nos passados alternativos, a ação transcorre numa época bastante anterior ao presente, como por exemplo, na noveleta “Custer’s Last Jump”, de Steven Utley & Howard Waldrop, em que o advento da aviação em meados do século XIX modifica a história da Guerra de Secessão e das Guerras Índias que se seguiram.
Nos presentes alternativos, a ação se passa mais ou menos em nossa época, só que numa linha histórica alternativa, modificada pelo advento precoce de uma tecnologia.
Quando principiamos a cogitar essas guidelines, pensamos em conceituar steampunk aqui.
Contudo, descobrimos uma definição castiça adequada na Wikipedia. Os conceitos ali expressos são mais restritivos do que aqueles que lhes estamos propondo, mas já dá para ter uma idéia geral. Portanto, usem e abusem: http://en.wikipedia.org/wiki/Steampunk
Se possível, dêem preferência ao verbete da Wikipedia em inglês, visto que sua tradução na Wikipedia em português encontra-se incompleta e, em alguns trechos, errada.
Se quiserem, sintam-se à vontade para consultar o ensaio “Steampunks!” constante na coletânea em e-book Ensaios de História Alternativa , cujo download é gratuito no site:
No que se pese que se trata de um texto escrito em 1998, é mais atualizado do que o verbete da Encyclopedia of Science Fiction, escrito pelo Peter Nicholls.
Contamos com a submissão da sua noveleta.
A submissão deve ser mandada somente em versão eletrônica, formato universal de texto (.txt) ou rich text file (.rtf), para os emails glodir@centroin.com.br e
antologia@tecnofantasia.com (enviem para ambos de forma a que não se perca nenhuma submissão. Por favor, solicitem confirmação de recepção). Indicando na folha de rosto o nome de nascimento do autor, o nome literário (se diferir deste), o título da obra, a dimensão (número de palavras) e um meio de contacto (endereço, email). Se tiver de enviar mapas ou gráficos, por favor envie em ficheiro separado e faça a devida nota no corpo do texto.
Mãos à obra!
Gerson Lodi-Ribeiro & Luís Filipe Silva
Fevereiro de 2009

Aula de História

Ana Cristina Rodrigues, historiadora, escritora e fomentadora cultural da literatura fantástica nacional, deu uma verdadeira aula sobre o que chamou - com razão - de "novo hype da Ficção Especulativa brasileira", no caso o gênero abordado nesta casa, o Steampunk. No blog Ficção Científica e Afins, que vem a ser uma versão Wordpress da maior comunidade em português de FC, da qual ela é a atual dona e há tempos moderadora, Ana destrinchou o contexto por trás desta "novidade", que já tem um quarto de século se considerarmos apenas sua vertente mais bem acabada, apontou várias obras em diferentes mídias que seguem o estilo steamer e relacionou tudo com a realidade do Brasil.

Vou selecionar abaixo alguns trechos, mas recomendo enfaticamente uma lida na versão integral naquele blog.


Steampunk é um estilo dentro da Ficção Especulativa em que se reproduz uma Era Vitoriana ucrônica, com avanços tecnológicos baseados no vapor. E vejam bem. A ênfase não é exatamente no Vapor – ou um conto sobre a minha chaleira seria steampunk – mas principalmente no ambiente que envolvia a Londres da segunda metade do século XIX.

Agora, qual o interesse em reviver essa época da história britânica?(Sim, bonitinho, Era Vitoriana foi só nos domínios ingleses…)

A Era Vitoriana compreendeu os anos do longo reinado da rainha Vitória, que governou o Reino Unido entre 1837 e 1901. Até hoje, desperta saudades nos britânicos por ter sido um período de prosperidade – para uma camada populacional bem definida, uma classe média urbana e mercantil que ascendia socialmente – e de grande pujança para o Império Britânico, sobre o qual o Sol nunca se punha. (Ok, a frase original é sobre o Império Espanhol do século XVI, mas está valendo aqui também).

Literariamente, tínhamos dos cínicos cronistas do mundo enfumaçado como Dickens aos românticos crônicos como Tennyson. De um lado, a dura vida cotidiana de órfãos, do outro, a Idade Média adoçada, fundada por Walter Scott, uma época fundadora onde teria nascido o sentimento da nação no meio de justas, torneios e belas donzelas amorosas. E claro, a literatura aventurosa, como a de Robert Louis Stevenson, de piratas e tesouros, ou de H. R. Haggard e Rudyard Kipling, em que as estranhas terras dos domínios britânicos serviam de palco para a aventura de um grande herói.

Porque essa foi também a época das grandes explorações geográficas e dos aventureiros. A Oceania, a África, a Ásia e a América – abaixo do Rio Grande, pelo menos – eram os quintais dos corajosos britânicos, impelidos pelo ímpeto da necessidade de se conhecer o Mundo como um Todo, eliminando as incomodas ‘terras incognitas‘ que ainda apareciam nos mapas. A Sociedade Real de Geografia divulgava alvoroçada os descobrimentos e as novidades em seus boletins, ricamente ilustrados com gravuras de lugares exóticos e mapas o mais precisos que fosse possível. Florestas eram desbravadas, nascentes foram encontradas, tribos foram pacificadas (algumas nem tanto). Souvenirs eram trazidos: cocares, flechas, potes, pigmeus e cabeças tatuadas de maoris.

(Sério. Até uns anos atrás, o Museu da Quinta da Boa Vista tinha duas em exibição. Não estavam mais expostas na última vez que eu fui lá, mas fuçando na internet descobri que o governo da Nova Zelândia vem pedindo desde 2003 aos museus do mundo o repatriamento dessas lembranças macabras. Alguns atenderam, a França não quis abrir precedentes e a cabeça da foto estava em exibição na Bélgica em 2008)

A ciência floresceu. Darwin escrevia sobre bicos de passarinhos ‘galapaguenses’. Faraday quebrava a cabeça tentando entender o magnetismo. E um tal de Charles Babbage começou a pensar em como seria uma máquina que pensasse.

Obviamente, nem tudo eram flores. Havia miséria – a emigração massiva de irlandeses para os Estados Unidos começou por essa época, guerras e conflitos armados grassavam nos domínios. Londres era uma cidade suja e perigosa. Afinal, Jack The Ripper é tão fruto dessa época quando o Dr. Livingstone (...)

(...)A gente realmente tinha pouco a ver com isso. Poucas obras do gênero foram traduzidas no Brasil – aliás, acho que só se você considerar o livro do Powers [Os portais de Anubis] como steampunk. Talvez parte da trilogia de Phillip Pullmann. Nos quadrinhos, tivemos a Liga de Alan Moore. No RPG, Castelo Falkenstein. Nos cinemas, a coisa foi melhor: os blockbusters chegaram todos aqui – até mesmo As loucas aventuras de James West, infelizmente.

Agora, é de se admirar que um país que nos deu o Barão de Mauá, Augusto Zaluar, D. Pedro II, Santos Dummont… não tenha produzido obras a vapor suficientemente interessantes. Poxa, nosso imperador provavelmente foi o governante mais steampunk de sua época. Seu interesse por gadgets, ciências e novidades era/é notório.

Até esse ano, aconteceram algumas tateadas. Gerson Lodi-Ribeiro, Carlos Orsi Martinho e Octavio Aragão tangenciaram o gênero – os dois primeiros em contos, o último em seu romance, A mão que cria. Mas talvez a primeira obra consciente e declaradamente steampunk do Brasil sejam os quadrinhos de Expresso! de Alexandre Lancaster. O piloto da série foi publicado em um projeto online de curta duração, mas a saga continua, já que novas HQ’s estão previstas e um conto sobre o protagonista vai entrar na primeira coletânea nacional do gênero.

A Tarja Editorial convocou alguns autores – uns experientes, outros novatos – para escrever histórias no mundo do vapor. Dessas, eu li em primeira mão três. Se as demais seguirem a qualidade destas, o livro promete. O lançamento de Steampunk – Histórias de um passado extraordinário será na Fantasticon, dias 25 e 26 de julho.

Agora, é esperar para ver se continuamos na onda do vapor – ou se escolheremos um novo hype literário.

16.7.09

Gaúchos a vapor


Acrescentei mais um endereço à galeria de links ao lado e com isso dou às boas vindas à Loja do Rio Grande do Sul do Conselho Steampunk. Agora são três praças do país que fazem parte deste movimento que divulga e apoia a cultura steamer: além dos recém-ingressos gaúchos, há lojas em São Paulo e Rio de Janeiro.

Vou reproduzir trechos do artigo que abriu as atividades no site gaúcho, "Mas o que é esse tal Steampunk?", de autoria de Ju Oliveira:

Os novos Steampunks

Atualmente encontramos o gênero steampunk em várias mídias. Além da ficção científica e do horror, o steampunk também se associa à fantasia como é o caso do anime “Escaflowne” e de alguns jogos de videogame da série “Final Fantasy”. Falando em animes, também são steampunks alguns dos episódios de “Robot Carnival” e, naturalmente, uma das obras-primas de Hayao Miyazaki, “Laputa: Castle in the Sky”.
Existem vários bons livros contemporâneos do gênero steampunk, a maioria ainda não disponível em português, como os três romances da “The Steampunk Trilogy” de Paul DiFilippo. Já traduzidos temos os primeiros livros da fantástica série “Dinotopia” de James Gurney.
Nas HQs, “As aventuras da Liga Extraordinária” é uma leitura obrigatória. O mestre Alan Moore nos maravilha utilizando toda a galeria dos personagens clássicos da literatura vitoriana/steampunk.
No cinema “As Loucas Aventuras de James West” com Will Smith não fez jus à memorável série da televisão “James West”. Mais à altura dela esteve a série “As Aventuras de Brisco County Jr.”, com Bruce Campbell que passou por aqui no canal Warner.

15.7.09

Eric Novello entrevista Gian Celli

E o portal Fantastik continua a fazer a melhor cobertura - não só - do lançamento da primeira coletânea steampunk nacional. Desta vez, Eric Novello entrevistou o organizador da obra e autor da noveleta que abre o livro, Gian Celli. Confira abaixo uma das perguntas e a resposta do editor da Tarja e leia a íntegra aqui:

Algum conto te surpreendeu em especial?
Praticamente todos os contos me surpreenderam de uma maneira ou de outra. Seja por sua ligação com personagens literários, com personagens históricos, ou como eles lidaram com a história e a teconologia do século XIX, o que eu sei, demandou bastante pesquisa. Isso sem contar a criatividade dos autores em trabalharem o gênero, mesclando o mesmo com outros, como o drama de guerra, o suspense, o romance, o terror e a aventura. Realmente o conjunto do livro ficou, como o próprio nome indica: extraordinário.
Sem advogar em causa própria, da capa aos contos, o livro está valendo a pena!


14.7.09

Concorra a duas coletâneas steam

Um dos autores presentes na coletânea Steampunk - Histórias de um passado extraordinário, Antonio Luiz M. C. Costa, separou dois livros para sortear pelo Orkut. Para concorrer, os participantes devem se comprometer a resenhar a obra que vão receber em suas casas. Os tópicos para se inscrever são de duas comunidades, a de Ficção Científica e a de Escritores de Fantasia.

Por falar nos autores da coletânea, no post sobre a repercussão do anúncio deste livro, deixei de mencionar que Roberto Causo noticiou o futuro lançamento na seção de Drops de sua coluna no site Terra Magazine. Outras menções que encontrei sobre a obra foram nos blogs Ambrosia, Falando de Fantasia e Baronato de Shoah. Se alguém identificar algum outro, por favor, me avise.

Conselheiro honorário

Mesmo morando distantes 705 quilômetros da capital de São Paulo, estou representado no site da Loja local do Conselho Steampunk. Depois de uma troca de mensagens naquele telégrafo sem fio que é o Twitter, eles me convidaram a contribuir com um texto sobre obras em quadrinhos influenciadas ou pertencentes ao gênero steamer. Num artigo que entrou no ar nesta madrugada, resenhei uma graphic novel da DC Comics do início da década de 90, quando dos primórdios desta vertente da ficção científica nos Estados Unidos. Trata-se de uma revista da linha Elseworlds daquela editora, cuja premissa é retirar seus personagens da ambientação costumeira e jogá-los em novos cenários, sejam eles históricos ou inspirados em alguma obra ficcional.

No caso o personagem é Batman e o cenário histórico é a Guerra Civil americana, no ano de 1863, portanto, um período bastante próximo ao que trabalhei na noveleta "Cidade Phantástica". A obra é The Blue, the Grey and The Bat que foi rebatizada como A Guerra da Secessão quando publicada no Brasil pela editora Abril em 1993, um ano depois de seu lançamento nos EUA. Abaixo, trechos da resenha, que pode ser lida na íntegra aqui:

Os primeiros quadrinhos abrem com cenas da cidade de Washington, obras inacabadas do que um dia viria a ser o Capitólio e um preocupado e amargurado presidente Abrahan Lincoln na sede do poder executivo, a Casa Branca. O texto faz uma análise pessimista da situação para o Norte, dando conta de que são os homens do Sul que contam com os melhores oficiais naquele momento. A vantagem da União reside no número de soldados e na riqueza de suas terras. Mas uma descoberta feita por um garimpeiro de má fama, chamado Henry T. P. Comstock, no território de Nevada, pode pôr fim ao equilíbrio de forças: um depósito de ouro e prata de dimensões e qualidade que mal podem ser imaginadas.


Apesar de nominalmente o controle da região estar com o Norte, aquele terreno representa uma encruzilhada de forças. Cercado por tribos de índios hostis, por mexicanos que pretendem recuperar terras perdidas para o vizinho duas décadas atrás, por mercenários atrás de riqueza fácil, além de agentes da Confederação separatistas infiltrados entre esses grupos, aquela fortuna em minério pode significar o futuro de um país. A vitória ou a derrota de um projeto de nação simbolizado pelos sonhos abolicionistas de Lincoln, um presidente que não conta com nenhuma companhia de infantaria para mandar àquela terra sem lei e tomar posse de fato das tais minas.


12.7.09

Torre de Vigia

A repercussão do anúncio da coletânea Steampunk - Histórias de um passado extraordinário me surpreendeu e tem se espalhado por blogs do Brasil e d'além mar. A maioria das páginas ressalta o ineditismo da iniciativa da Tarja e publica a bela capa do livro, de autoria de Marcelo Tonidandel, o mesmo que assinou a de Fome, de Tibor Moricz, obra que tive o prazer de prefaciar.

O primeiro que percebi a comentar a coletânea foi justamente um observador de outra margem do oceano. Frederico J., grande entusiasta de Jules Verne e responsável por um blog que reúne impressionante quantidade de informações sobre o autor francês, fez um post ressaltando a presença do meu conto e de sua influência verniana.

Em seguida, vieram os aficcionados por RPG, jogo que ao lado da literatura, dos quadrinhos e do cinema é uma mídia que bebe da fonte steampunk há anos. Nexus RPG, mantido pelo escritor José Roberto Vieira, que se dedica a produzir um romance do gênero, publicou a capa da obra. Já a equipe do Pensotopia fez um post para falar do estilo e comentar um dos jogos mais influenciados por ele, o Castelo Falkenstein.

Evidentemente, não poderia ficar de fora da divulgação o grupo que mais batalha pela cultura steamer no Brasil. A Loja de São Paulo do Conselho Steampunk comemorou a notícia como uma grande vitória para os amantes deste gênero no país. De fato é e eles têm muitos méritos nesta conquista.

Outro grande divulgador da literatura fantástica por aqui, Silvio Alexandre, publicou em seu Universo Fantástico o convite para o lançamento do livro. O mesmo que fez a escritora Cristina Lasaitis em seu blog, destacando outros lançamentos do mês da mesma editora.

Aliás, mês que promete ser o mais recheado da história da ficção fantástica nacional. Quem fez o levantamento mais completo foi Fernando Trevisan, na seção de Leituras de sua página ele enumera seis obras brazucas que vão ser lançadas em julho, entre elas a primeira coletânea steampunk já produzida com material brasileiro.

Mas o destaque mesmo fica para o final, pois a melhor cobertura feita pelo anúncio de Steampunk - Histórias de um passado extraordinário foi a do escritor e divulgador Eric Novello. Em sua página Fantastik ele reuniu informações sobre as noveletas, descrições delas pela maioria dos autores e ainda pequenos trechos de cada uma das nove obras que compõem a coletânea. Imperdível.

Um começo bastante promissor para o livro e para o fortalecimento da cultura steamer no Brasil. Meu agradecimento a todos.

7.7.09

Convite

Clique na imagem para ampliá-la:

6.7.09

Steampunk - A primeira coletânea nacional

Recebi informações sobre o livro em que vai ser publicada a noveleta "Cidade Phantástica".

Steampunk - Histórias de um passado extraordinário vai trazer textos de nove autores em 184 páginas. O lançamento será nos dias 25 e 26 de julho, das 11 às 19 horas, durante a Fantasticon 2009 – III Simpósio de Literatura Fantástica que ocorrerá na Biblioteca Temática de Literatura Fantástica Viriato Corrêa, na Rua Sena Madureira, 298 – Vila Mariana – São Paulo – SP.

Abaixo você pode conferir a capa do livro e alguns detalhes dos contos e autores presentes na obra, editada pela Tarja Livros.



Gianpaolo Celli trouxe uma história clássica, com referências históricas reais misturadas com ação e intrigas, envolvendo sociedades secretas e o prelúdio do que se tornou a guerra Franco-Prussiana. Fábio Fernandes apresentou uma adaptação primorosa do complexo de Frankenstein, com uma visão fascinante de um futuro onde a sociedade divide seu espaço com a maquinidade. Antônio Luiz rompe as amarras do metal, trabalhando avanços em outra área de estudo, com ambições até mesmo maiores e mais perigosas: a medicina. Alexandre Lancaster cedeu uma narrativa com ares de ficção científica, onde a ciência aponta que somente pode ser vista com simpatia se for inofensiva, caso contrário, torna-se uma maldição. Roberto Causo transporta o leitor para uma viagem repleta de escaramuças pelas selvas de nosso país, mas não entre as árvores, mas acima delas, mostrando Santos Dummont de uma forma inusitada. Claudio Villa arremessa o leitor para o mar, singrando suas águas acima e abaixo, em busca de um tesouro que leva o leitor aos ares do terror lovecraftiano. Jacques Barcia nos dá um conto “estranho”, unindo o drama da guerra, máquinas quase humanas e seres inacreditáveis da mitologia em um caldo que realmente proporciona uma nova criação. Romeu Martins transporta o leitor para um ambiente de faroeste à brasileira, com o clima típico desse estilo de folhetim, mas com heróis e bandidos extremamente vaporosos. E Flávio Medeiros encerra as páginas da obra com chave de ouro, mostrando os clássicos dirigíveis e submergíveis em um drama de honra que certamente agrada muito aos apreciadores do gênero.

4.7.09

Steampunk made in Brazil 3

Zuda Comics é o nome da editora de quadrinhos virtuais - ou webcomics - mantida pela DC na internet. Mensalmente eles realizam um concurso no qual os próprios leitores podem votar e ajudar a escolher qual HQ autoral eles gostariam de ver publicada naquele site. No mês de junho os vencedores foram o roteirista americano Dwight MacPherson e o desenhista brasileiro Igor Noronha com o seu projeto chamado Sidewise.

O melhor, para leitores deste blog que se interessam por cultura steamer, é que se trata de uma obra literalmente de vitoriana alternativa. MacPherson se diz fã de autores como Jules Verne e H. G. Wells e criou sua trama para apresentar ao filho, de 13 anos, os conceitos do steampunk.

A história conta as desventuras do gênio de 15 anos Adam Graham. O garoto se apropria de um invento dos pais, uma máquina do tempo, para viajar para a Londres de 1902, justamente no fim do reinado da rainha Vitória, para pesquisar um trabalho de escola. Acontece que ele não volta no tempo, mas invade uma dimensão paralela na qual o cérebro preservado daquela regente domina a ilha contando com os serviços de robôs criados por Nikola Tesla - cientista que pretende se rebelar contra a tirana se unindo ao jovem protagonista do gibi eletrônico.

Igor Noronha deu uma entrevista ao Omelete na qual falou da experiência de participar daquele concurso que atrai a atenção de quadrinistas de todo o mundo:

A sensação de ganhar é indescritível, pois foi uma batalha intensa durante 30 dias. Começamos em primeiro e permanecemos no topo durante todo o mês até que, faltando apenas um dia, caímos para o segundo lugar. Foi então que recebemos uma imensa ajuda de amigos e de todos que querem muito ler mais de Sidewise. É muito bom ver que todo o sacrifício foi recompensado, e que agora poderemos finalmente contar a nossa história.