2.4.10

Torre de Vigia 23

O jornalista Antonio Luiz M. C. Costa, da revista Carta Capital, acaba de postar uma resenha sobre a primeira coletânea nacional dedicada ao gênero steampunk na rede social Skoob, especializada em literatura. Ele abre sua análise avisando aos leitores que é um dos contistas presentes no livro, sendo o autor de "A flor do estrume", mas compartilha a opinião de outros críticos que apontam a obra como uma das mais importantes lançadas recentementes no país. Entre eles, o americano Larry Nolen - cuja opinião foi registrada e, em parte, traduzidada aqui - como podemos ver a seguir:

O leitor talvez queira considerar esta resenha como suspeita, pois o resenhista é um dos autores. Mas não fui só eu quem considerou esta como uma das melhores antologias brasileiras de ficção científica publicadas em 2009. Compartilha dessa opinião o estadunidense Larry Nolen – um dos mais conhecidos resenhistas do gênero no mundo – que listou este livro entre os 51 melhores lançamentos ou relançamentos desse ano entre os cerca de 500 de todo o mundo que chegou a ler. O livro também foi lembrado na retrospectiva de 2009 organizada por Jeff VanderMeer para o site internacional de ficção científica “Locus Online”, no “The World SF News Blog” e no site especializado “Steampunkopedia”.

Transcrevo um trecho da resenha de Nolen:

“When I first ordered this anthology back in August, I had some trepidation that the authors would ape the manners and styles of the Anglo-American steampunk writers and not write anything that would be original in form or content. If anything, the elements that these nine writers (...) use are more appealing to me than what I have found in the majority of the English-language steampunk fiction of the past decade. There is a darker undercurrent in this anthology, a sense that underneath the trappings of a steam age ‘golden age’ that there is much wrong with the local and global societies. A frustration that technological advancement and the rise of a leisure class is not improving the lot of the social classes as much as it should. There is a dark cloud in several of these stories, a cloud which threatens to burst asunder, bringing destruction and ruinous change in its wake”.

Parafraseando, Nolen temia que os contos fossem mera imitação da produção anglo-americana, mas descobriu nos brasileiros desta antologia algo mais atraente ou interessante do que têm encontrado na maior parte da ficção steampunk anglófona: uma percepção de que a tecnologia (representada pelas invenções steampunk) e a ascensão das classes ociosas não melhora a vida das demais classes sociais tanto quanto deveria. Há uma “nuvem negra” em várias das histórias, que ameaça trazer mudanças destruidoras em seu caminho. É curioso, pois essa mesma percepção estava bem clara em “The Difference Engine”, o romance de William Gibson e Bruce Sterling que definiu o steampunk como gênero. Isso significaria que os autores brasileiros estão sendo mais fiéis ao espírito original do gênero que os britânicos e estadunidenses.
 Após essa introdução, o resenhista dedica "Uma antologia de ficção científica brasileira de repercussão internacional" a comentar cada um dos nove contos presentes em Steampunk - Histórias de um passado extraordinário. Destaco abaixo o trecho que fala de minha noveleta, "Cidade Phantástica", deixando o alerta de que há alguns spoilers ao final:

“Cidade Phantastica”, de Romeu Martins, é uma aventura em um Brasil de um Segundo Reinado mais avançado e industrializado que o do D. Pedro II real, no qual se encontram personagens de Júlio Verne (“Da Terra à Lua”), Conan Doyle (“A Ponte de Thor”) e Bernardo Guimarães (“A Escrava Isaura”), além dos criados pelo autor. Como aventura cinematográfica, funciona bem, tanto na descrição da ação quanto na caracterização e uso de personagens tão heterogêneos. O núcleo da história, porém, repousa numa premissa pouco verossímil. Os vilões conseguem construir, em segredo, um supercanhão no centro do Rio de Janeiro, capital do Império, como parte de um projeto arquitetônico que certamente atrairia o interesse e a curiosidade de todos os engenheiros do planeta – e numa posição que o tornaria muito pouco manejável.

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