3.2.11

Damas e cavalheiros: a Vapor Marginal - Entrevista

Como eu já havia postado antes por aqui o trecho do conto "Modelo B" que foi publicado na revista Vapor Marginal, farei o mesmo neste e no próximo post com minhas duas outras participações na revista do Conselho Steampunk. Começando com a entrevista que Cândido Ruiz fez comigo, via Gtalk, sobre este blog, a noveleta homônima e diversos outros assuntos. Abaixo, seguem alguns trechos, a íntegra pode ser lida na revista:

Vapor Marginal: Bem, falemos um pouco então sobre "Cidade Phantástica". A Noveleta e o universo que a permeia. Inspiração?

Romeu Martins: Foi tudo planejado a partir do convite para escrever na coletânea. Eu nunca tinha pensado a sério em escrever algo no gênero, apesar de que em um conto dos terroristas, "Espírito animal", já dava uma brecha para algo assim. Na época do convite, feito por Gian Celli, estava comprando uma série de revistas de uma coleção da História Viva sobre as estradas de ferro no Brasil. Numa das edições, a primeira, eles relembravam que o Barão de Mauá era citado no livro Da Terra à Lua de Jules Verne. Esse foi o embrião de tudo. (...)

Vapor Marginal: Este resgate da cultura brasileira por meio de personagens históricos e oriundos de telenovelas foi planejado? Acredita que este seja um papel importante da literatura nacional?

Romeu Martins: Eu não gosto de levantar bandeiras, nem de pregar algo tão controverso quanto o nacionalismo. Mas não vou negar que a ideia de fazer um resgate do tipo me agrada. Veja, as inspirações iniciais daquele texto foram o romance de um francês, Jules Verne, e o conto de um inglês, Artur Conan Doyle.

Mas eu queria que a história tivesse algo de nacional, para não simplesmente se passar no Brasil. Então, pensei num personagem, em domínio público, como os outros, que é também o mais famoso vilão da ficção brasileira. Achei isso simplesmente irresistível usá-lo na noveleta. O romance de onde ele veio foi escrito no século XIX e também foi adaptado em telenovelas de muito sucesso. A telenovela é nosso folhetim, nossa literatura pulp em forma eletrônica. Acho que é uma homenagem justa algo assim estar ao lado de Verne e de Doyle. Mas há mais um pouco de literatura brasileira em “Cidade Phantástica”. Ela se encerra com uma citação a Machado de Assis, mas usada numa brincadeira com histórias em quadrinhos. Esse é um dos grandes baratos do steampunk. Podemos nos apropriar de coisas que marcaram a vida de gerações anteriores e usar para algo nosso. E uma das coisas mais complicadas da noveleta foi mexer com tantos elementos díspares.

Eu uso nela personagens de Verne entre uma página e outra de um mesmo livro. No caso do conto do Doyle, a história se passa anos antes de quando os personagens em questão foram criados, quando eles ainda eram jovens. E no caso do livro brasileiro, a noveleta é situada quase dez anos depois do período em que ela se passa. Harmonizar tudo isso foi um desafio muito legal, teve uma boa dose de pesquisa ali.

Vapor Marginal: Dois elementos bastante peculiares na noveleta que gostaria que comentasse, são a presença do Gun Club e existência de uma Malta tão peculiar.


Romeu Martins: O Gun Club é uma criação maravilhosa de Verne. Engenheiros bélicos americanos querendo um uso pacífico para seus conhecimentos. A gênese da NASA!

Claro que o sonho de Impey Barbicane não poderia agradar a todos e foi um prazer caçar um descontente no meio daquele grupo ;) A Malta foi uma interação muito legal com meus beta readers. No início eu queria brincar com as expressões que Alan Moore usa em sua série Liga Extraordinária. O nome da gangue de assaltantes de trens seria Vagabundos Vaporosos. Uma beta gostou, outros dois odiaram. Daí mudei pra Malta do Vapor. Veja que a ideia era brincar com a questão da tradução mal feita, como fizemos naquele site, O Malaco.

Na mesma frequência de usar personagens brasileiros no meio de criações estrangeiras. Pelo mesmo motivo que João Fumaça vira John Steam quando os americanos falam com ele.

Então Malta do Vapor é igual a Vagabundos Vaporosos que é igual a... SteamPunk ;)


Vapor Marginal: O Web-site surgiu para divulgar a noveleta e acabou se transformando em um folhetim steampunk bastante popular. Como foi esta transformação?

Romeu Martins: Pois é, aquele era pra ser um blog totalmente descartável. A ideia era apresentar o universo e interagir com os comentaristas, para me ajudar a fazer algo que nunca tinha feito: um texto ficcional maior que um conto.

Mas eu gosto de, sempre que possível, tentar agregar mais gente, interagir mais com mais autores. Então, ao longo dos meses, a coisa passou a ser um blog sobre o projeto de outras pessoas também.

Acho que começou com uma resenha de uma flash fiction que o Fábio Fernandes publicou no site Everyday Weirdness. Que na época eu nem sabia, mas, foi a base do conto que ele publicou também na coletânea SteamPunk, da Tarja.

Dai pra frente, comecei a ver o que estava acontecendo no país em termos de produção nacional no gênero e tudo o que fiquei sabendo fui publicando por lá. Começou como uma ferramenta auxiliar pra noveleta, passou a ser o espaço da clipagem das resenhas do livro e uma fonte de informação sobre o steampunk no Brasil.

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