27.4.11

Cursed City em pré-venda

A loja Estronho acaba de colocar em pré-venda a coletânea weird west Cursed City - Onde as almas não têm valor. Quem for visitar o endereço pode adquirir o título por lá com um desconto de R$ 10 com direito a brindes e ainda acumular pontos para novas aquisições de livros da editora Estronho naquele site, onde também estão disponíveis títulos de suas parceiras, como a Draco, Tarja Editorial e UnderWorld. Para comemorar o início das vendas - e o centésimo post deste ano em meu blog -, segue o trecho inicial do meu conto naquela obra, "Domingo, Sangrento Domingo".




Os passos do casal ecoaram nas rochas cheias de limo e musgo eternamente protegidas da luz do sol. Ela pisou com cuidado o chão escorregadio, mal fez barulho, pois os pés estavam nus, sem os sapatos de salto alto que costumam cobri-los quando andam por terrenos mais firmes. Já o homem, usando botas de solado grosso, retumbou seu peso naquelas pedras acrescido pelo material de mineração que carregava. Os metais faíscavam cada vez que batiam nas paredes sombrias e estreitas.

– Tem certeza que foi daqui que saiu o bicho? – o homem falava com uma voz de tenor valorizada pela acústica da caverna. – Esses montes de pedregulho parece tudo igual.

– Claro que tenho, não falei? – já ela soava como uma soprano, esbaforida pelo esforço da caminhada. – O rato parecia querer que eu visse ele com toda calma. Ficou parado na entrada, bem ali, me olhando, até eu chegar a poucos passos dele. Só então voltou a correr pra dentro desse paredão aí, bem na tua frente. Mas antes disso, largou essa belezura que tava rolando com as patas da frente, refletindo no sol... foi o que me atraiu a vista. Mesmo precisando de dinheiro pra pagar a Marlene o meu quarto no bordel, nem tive corage de vender e chamar a atenção de meio mundo de que tem disso por aqui.

O homem soltou um assobio, ainda impressionado pela pedra que a sua acompanhante carregava.

– Mary, vou dizer, eu nunca ouvi falar de prata nessas terras, mas posso jurar que esse torrão aí é material de primeira! Oh, se é.

A mulher soltou uma risada; o homem largou os apetrechos ruidosamente no chão.

– Eu sei, eu sei. Nunca ninguém soube de prata nessa parte do deserto, tirei a dúvida perguntando prum cliente que trabalhou nas mina da região. Ele me disse que o antigo nome, o de verdade, de Cursed City até tinha alguma coisa que ver com ouro... De prata ele nunca enxergou nada e eu é que não mostrei isso prele, que burra eu não sou.

– Cê é a mulher mais danada de esperta que eu conheço, isso sim. Tanto que resolveu confiar o segredo que o rato te mostrou pra eu – a risada dele explodiu como se a caminhada e o peso da tralha não tivessem afetado em nada seu fôlego.

– Uma coisa é mostrar uma pedra dessas prum espertalhão cheio de contato com os rico da cidade. Outra é confiar em um escravo fugido feito tu, que sabe muito bem que aparecer numa mesa de carteado do Saloon do Billy, cheio de prata pra trocar por ficha, é pedir pra levar chumbo e chicote no lombo.

Um palito esfregado numa pedra qualquer chiou antes de acender o charuto que o negro começou a fumar.

– Escravo fugido? Sei não, Mary, ouço os home dizer que a confusão entre os Confederado e as tropa da União chegou ao fim e que o presidente da capital libertou todo mundo... – uma tragada forte seguiu-se de uma baforada lenta. – É o que ouvi dizer.

– Essas coisas entre o Norte e o Sul são em outro mundo, rapaz. Aqui é o Oeste e nenhuma lei que descontente os que têm dinheiro vai valer só porque o finado Abraham Lincoln, que Deus o tenha, assim queria. Agora larga esse troço fedido e começa a fazer força, não foi pra fumar que tu veio. Pode quebrá bem ali, onde o rato se entocou.

2 comentários:

Giseli disse...

Legal, vou comprar já ^^

Romeu Martins disse...

Ráááápida no gatilho ;-)