4.4.11

O lado mais punk do steam

Vou citar um post aqui que chegou até mim por uma dica do divulgador de ciência Daniel Bezerra via twitter. O assunto vem bem a calhar após o incidente nuclear que atingiu o Japão após o terremoto seguido de tsunami no mês passado. Vale como reflexão a respeito de como não existem respostas fáceis quando o assunto é atender a necessidade humana de geração de energia. Em tempo, como comentei com Bezerra, este assunto me lembrou um conto envolvendo Sherlock Holmes sobre o qual comentei em outro blog: "O caso do ácido carbônico" ("The carbon papers"), escrito pelo inglês John Gribbin, publicado no Brasil pela saudosa Isaac Asimov Magazine (o exemplar pode ser baixado aqui, e eu considero esta uma autência aventura steampunk do famoso detetive criado por Conan Doyle).


Mas vamos ao citado post, escrito por Kentaro Mori do blog 100 Nexos:


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Como você deve saber, há neste momento uma usina de energia no oriente lançando partículas nocivas na atmosfera, incluindo elementos radioativos, que podem causar doenças e mortes. O que todos deveriam saber é que em conjunto estas usinas já matam centenas de milhares de pessoas todo o ano. E o que todos deveriam realmente saber é que estamos falando de usinas movidas por inofensivos pedaços de carvão.

Surpreendentemente usinas movidas a carvão chegam a lançar mais radioatividade ao ambiente que usinas nucleares pela mesma quantidade de energia produzida. Inofensivos pedaços de carvão mineral contêm quantidades naturais e usualmente desprezíveis de elementos radioativos como urânio e tório. Queime o carvão transformando-o em uma fina fuligem, e a concentração destes elementos radioativos pode aumentar em até dez vezes. Multiplique isto pelas quantidades gigantescas de carvão que devem ser queimadas para produzir energia – apenas a China consumiu 3,2 bilhões de toneladas no ano passado – e ao final as doses estimadas de radiação recebidas por pessoas vivendo nas proximidades de usinas movidas a carvão são iguais ou maiores do que aquelas que vivem ao lado de usinas nucleares.

E ainda assim, tais doses são essencialmente inofensivas. O que sim mata são poluentes muito mais tradicionais.

Em 1952, uma espessa cortina de fumaça cobriu a cidade de Londres e matou 4.000 pessoas em quatro dias. Outras 8.000 vítimas morreriam nas semanas e meses seguintes. A causa não foi uma violenta catástrofe natural sem precedentes. A causa foi a fortuita confluência de eventos meteorológicos – como as familiares camadas de inversão – que fizeram com que poluentes atmosféricos fossem concentrados sobre a cidade.
Enquanto milhares de pessoas morriam, não houve pânico. A cidade que conheceu primeiro tantos dos problemas de megalópoles modernas já havia sofrido com “smogs” anteriores, ainda que este fosse particularmente intenso e incômodo. As vítimas fatais foram indivíduos já fragilizados, como bebês e idosos, ou pacientes que já possuíam problemas respiratórios. Foi apenas ao compilar estatísticas que esta tragédia silenciosa tornou-se clara, motivando legislações como os Clean Air Acts em 1956 que restringiriam a poluição atmosférica.

Tragédias similares deixaram de ocorrer em Londres, mas a poluição atmosférica ainda é uma das principais causas de morte no mundo. Estima-se que tenha sido a causa de morte de meio milhão de pessoas na China apenas no ano passado.

Enquanto milhões morrem, não há pânico.
É assim que o mundo acaba. Não com uma explosão, mas com um suspiro”TS Elliot

2 comentários:

Marcelo Ez disse...

Na humilde opinião de um leitor que acompanha o Cidade Phantastica ha algum tempo, este fora o mais intenso, critico e emotivo texto ja postado.
Parabéns e, faço minhas suas criticas palavras.

Romeu Martins disse...

Muitíssimo obrigado pelo comentário, Marcelo. Este artigo de Kentaro Mori é perfeito para refletirmos como nem sempre as soluções aparentemente mais fáceis, como fechar de vez as usinas nucleares, podem ser as mais corretas. Abraço!