8.7.11

Semana Sherlockiana - Parte V: O artigo

Dando prosseguimento à semana dedicada ao personagem mais emblemático da Era Vitoriana faço a chamada para um artigo que publiquei no blog da mesma editora que vai lançar ainda este ano a coletânea Sherlock Holmes - Aventuras Secretas. Minha segunda colaboração para aquele espaço, sendo que a primeira também dizia respeito à criação de Sir Arthur Conan Doyle (a tradução do artigo sobre as vilãs brasileiras do Cânone, escrito pelo organizador do livro de contos, Carlos Orsi Martinho), este texto veio com a intenção de esclarecer alguns pontos que volta e mexe aparecem sempre que se menciona ficção alternativa.

Este subgênero da ficção científica toma de empréstimo criações de outros autores, sempre que possível em domínio público, para dar a elas novos direcionamentos, rumos diferentes dos que os originalmente imaginados para aqueles personagens. Holmes é uma das maiores fontes para tais exercícios de reimaginação, sendo que no Brasil há pelo menos três romances em que conterrâneos nossos o utilizaram em novas aventuras passadas em nossas terras. O mais famoso deles, sem a menor dúvida, foi o do primeiro livro do humorista e apresentador Jô Soares, O Xangô de Baker Street, um de nossos raros bestsellers. Entre os aficionados da FC, também é célebre a obra O Relógio Belisário, do pioneiro do fantástico em nossas terras José J. Veiga (1915-1999). Caso menos conhecido, infelizemente, é o do livro do catarinense Raimundo Caruso, escrito ainda nos anos 80, com reedição em 1996: Noturno, 1894 - Paixões e guerra em Desterro e a primeira aventura de Sherlock Holmes no Brasil. A obra em produção pela Editora Draco inova por ser, até onde tenho conhecimento, a primeira de nosso país a trazer contos de vários autores com o personagem, prática já usual em diversos outros mercados editoriais.



Por algum desconhecimento sobre a legitimidade de tal gênero da FC, é normal ver pessoas, até mesmo dentro do fandom, onde imagina-se deveria haver pessoas mais bem informadas, contestando tal prática da reutilização de personagens alheios. Ainda mais no caso de um mito cujas histórias originais são agrupadas em um Cânone praticamente intocável na visão dos mais puristas: os mitológicos 60 textos de Conan Doyle escritos entre 1887 e 1927. Por isso mesmo, tentei escrever um artigo que questiona as obras canônicas a partir de uma dúvida que levando sobra a produção do próprio criador. Segue o trecho inicial:

Um dos personagens mais famosos de toda a história da ficção, dos mais debatidos, dos mais reinterpretados, Sherlock Holmes é um daqueles casos em que a cria superou o criador. Até mesmo contra a vontade de seu autor, sir Arthur Conan Doyle (1859-1930), que tentou encerrar a carreira do detetive vitoriano com o conto “The Adventure of the Final Problem”, escrito em 1893 para a Strand Magazine, por achar seus demais escritos eclipsados pela popularidade do personagem. Como registra a história, a tentativa foi vã e Doyle se viu obrigado a atender a demanda de editores e leitores, resgatando Holmes e o restabelecendo para novas aventuras por mais uma década e meia, até bem perto de sua própria morte. Porém, o mais famoso morador do 221-B de Baker Street superou não apenas esse ato em vida do escritor, ele também continuou existindo pela pena de muitos outros autores bem além daquele que foi oficialmente o seu último romance, O Vale do Terror, de 1915.

Neil Gaiman, Michael Chabon, Henry Turtledove, Jô Soares, JJ Veiga, são apenas alguns dos inúmeros escritores que continuaram a saga do excêntrico detetive consultor para bem além do que foi originalmente imaginado por aquele que o criou, em 1887, no livro Um Estudo em Vermelho. A lenda de Sherlock Holmes está bem viva, como atestam as páginas trimestrais de The Baker Street Journal, o mais famoso periódico de estudos dedicado ao personagem e que faz uma compilação das muitas dezenas de obras que todos os anos dão continuidade àquele legado de Arthur Conan Doyle para além das mitológicas 60 histórias originalmente criadas por ele. Mas, a pergunta que eu faço é: você tem mesmo certeza de que foram apenas seis dezenas de aventuras, quatro romances e 56 contos, as imaginadas por Doyle para seu personagem mais conhecido?

Continua

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