14.10.11

A nova geração de Perdedores

Escrevi a resenha abaixo para ser publicada hoje no UniversoHQ, mas por desatenção minha não percebi que ela já constava nos arquivos do site - que é um dos maiores, talvez o maior, banco de resenhas de HQs do mundo. Então, para não perder a oportunidade, vou publicá-la por aqui, mesmo não sendo um material ligado ao steampunk. Mas, afinal, a temática da série, sobre teorias da conspiração e jogadas políticas, é uma das minhas favoritas, como sabe quem acompanhava meu outro blog, o dos Terroristas da Conspiração. Boa leitura!

Título: Os Perdedores – Hora do troco

Por Romeu Martins, responsável pelo blog Cidade Phantástica

Editora: Panini

Autores: Andy Diggle (texto), Jock (arte), Lee Loughridge (cores) – Originalmente em The Losers #1 a #6


Preço: R$ 22,90

Número de páginas: 160

Data de lançamento Abril de 2010

Sinopse

Os Perdedores formavam um grupo secreto do governo americano envolvido nas diversas guerras que o país articula mundo a fora. Em uma missão no Oriente Médio, os cinco agentes são abandonados pela CIA para morrer na explosão de um helicóptero. Agora, aliados a uma sexta integrante, ainda ligada àquela agência, eles se preparam para a vingança contra as instituições que os traíram.

Positivo/Negativo

Este encadernado lançado pela Panini não traz o primeiro grupo da DC Comics a levar o nome de Os Perdedores. Originalmente, personagens assim chamados surgiram no final dos anos 60, pelas mãos do autor Rober Kanigher, vivendo histórias durante a II Guerra Mundial.

Eram tempos de um novo tipo de guerra, travada tanto no Vietnã quanto na opinião pública, que levavam artistas de todas as mídias, literatura, cinema, teatro e quadrinhos, a repensarem a participação dos Estados Unidos em outros eventos históricos. Mesmo a participação em um evento tão importante quanto a maior de todas as guerras.

Nada mais era sagrado neste campo. A contestação da contracultura fazia as pessoas reverem antigas verdades absolutas.

Algo semelhante passou a acontecer após o clima de consternação geral do 11 de Setembro, tão logo os EUA se voltaram para aquilo que foi chamado de Guerra ao Terror. Era o clima ideal para um novo time de Perdedores entrar em ação, agora em uma realidade ainda mais midiática e com a contestação à superpotência americana atingindo todas as partes do mundo.

Não é de se admirar que a proposta tenha sido levada para o selo de quadrinhos adultos da editora. E menos ainda que o projeto tenha sido realizado por autores britânicos, conterrâneos daquela geração de Alan Moore, Neil Gaiman, Garth Ennis que fizeram história na Vertigo.

A partir de 2003, quando os acontecimentos em países como Afeganistão e Iraque começavam a invadir o café-da-manhã da população americana, e até 2006, por 32 edições, a nova série ficou por conta dos roteiros de Andy Diggle e seu antigo colega de 2000AD Jock.

As seis primeiras histórias reunidas nesta edição especial mostram o novo grupo em ação, agentes secretos traídos pelo governo e que eram apenas inspirados pelos soldados anteriores. Clay, Roque, Vira-Latas, Jensen, Cougar eram os homens em busca de vingança contra a CIA e, especialmente, a um certo agente de nome (ou codinome?) Max. A eles se junta Aisha, vinda do Oriente Médio e ainda na ativa na Companhia.

Em “Ação entre mortos”, a HQ que abre o álbum, uma boa medida da ação ininterrupta que se poderia esperar da série. Tanta que nem dá tempo de apresentar todos os personagens pelo nome, enquanto eles roubam um helicóptero, e com ele um carro-forte, Aisha desembarca em Nova Iorque, e o básico da motivação do grupo é explicado nas entrelinhas.

O arco seguinte, formado de cinco histórias, mostra uma ação ainda mais ousada dos ex-operativos em solo americano. “Golias” é o título em comum das histórias e o nome da megacorporação que, com seu G maçônico estampado em tudo, está por trás de várias ações ilegais relacionadas com a exploração de petróleo.

Para quem acompanhou – e ainda acompanha – o noticiário a respeito das operações de reconstrução iraquiana, não é difícil descobrir que companhias reais estão representadas por aquela empresa fictícia. Vale o mesmo para o PAR-SEG, grupo de mercenários terceirizados pelos EUA em missões na América Latina e no Oriente Médio.

O texto de Diggle é de uma agilidade impressionante, combinando muitas informações técnicas sobre equipamentos, armas e bastidores do mundo da espionagem com ação e humor bem dosados. É bem verdade que alguns clichês escapam, mas no geral a qualidade é alta

Já a arte de Jock, cujo nome real é Mark Simpson, é mais conhecida pelas capas que faz para a série Escalpo , publicada todos os meses na revista Vertigo . Mais estilizado que realista, ele abusa um pouco das cenas em que os personagens parecem posar para fotos, mas consegue efeitos muito bons com seus ângulos ousados. Em uma grande cena de explosão, por exemplo, imita o efeito de distorção de uma lente de grande ocular, como se estivéssemos vendo tudo por uma câmera de cinema.

Não é à toa que o material chamou a atenção de Hollywood, pois as histórias pareciam mesmo storyboards prontos para serem filmados. Infelizmente, o filme lançado em 2010 foi mal nas bilheterias americanas e foi lançado diretamente em DVD no Brasil. Talvez a concorrência com um material semelhante mas baseado em produto mais conhecido tenha alguma responsabilidade nisso: a adaptação do seriado dos anos 80 Esquadrão Classe A foi produzida no mesmo período de Os Perdedores

Com isso, muitos perderam a chance de ver Chris Evans, o Tocha Humana dos filmes do Quarteto Fantástico, e o atual Capitão América, vivendo outro personagem dos quadrinhos: o falastrão Jensen.

Foi na esperança de que a película ajudasse na divulgação do encadernado que a Panini lançou a série por aqui na mesma época e com chamada na capa: “A história em quadrinhos que inspirou o filme”. Antes dela, a extinta editora Opera Graphica já havia traduzido as mesmas histórias e lançado por aqui com um preço bem mais alto.

Seria uma pena se o fraco desempenho dos cinemas levassem a editora a desistir de publicar as outras 26 HQs de Os Perdedores que ainda restam inéditas no país.

Por ironia, na última página desta revista, a Panini estampou uma publicidade de outra série da Vertigo, Loveless – Terra Sem Lei. Ela estava publicando naquele mesmo mês o primeiro de quatro encadernados que fizeram com que aquele western de Brian Azzarelo fosse o primeiro material do selo a ser inteiramente lançado no Brasil pela editora.

Os Perdedores bem poderiam entrar para esta seleta lista caso os leitores mostrassem mais interesse pelos personagens que os cinéfilos.

Classificação: 4

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